segunda-feira, 15 de junho de 2009

Casamento

Situação: casamento.
Lugar: Praça.
Palavras aleatórias: cachorro, tijolo, sofá, vidro, árvore.
Tragicomédia.
3a pessoa.

Chegou o dia. Sem saber que dia era, foi. Colocando pé-pós-pé até a pracinha da cidade, a garota ia devagar, quase desiludida. O sol brilhava no alto da torre da igrejinha, e ela achava que era um presságio.
Subiu. Pé direito, depois pé esquerdo, depois de atravessar a rua, no calçado da pracinha da cidade.
Cidade nada, povoado. Mas não tão pequeno. Cidadezinha. Rezumia-se à pracinha as festas de salão, depois que um raio acabou com a cobertura e todo o resto do clube desativado - onde só se conservava mesmo era o salão. Fim do salão, fim do resto, resumiam-se as festas à pracinha, isso quando não chovia. É que na Cidadezinha - podemos até mesmo colocar em letra maiúscula a tal, pois nem nome tinha mesmo! Era só o lugar o onde o povo morava, e referia-se à ela, como a Cidadezinha - bem, nessa pequena cidade - pra não ficar repetindo - ninguém tinha muita paciência pra dançar ou tocar segurando guarda-chuva. Mas, bem; além da badaladíssima - se é que eles sabem o que é isso - pracinha, existia também a Igrejinha, que ficava em cima de um grande morro. E também a padaria, que retirava os pães da fornalha às 5:30, e às 10:30. Sempre em horas quebradas para fazer-se charme, caso saísse mais cedo. Os pontos turístico acabavam por aí, embora nenhum turista se arriscasse a ir lá, e houvesse também a casa da Tia Sinhá, que fazia umas amarrações que ninguém sabia o que era para o resto, ma já tinha ido lá umas cinco vezes.
Dada a Cidadezinha, voltemos a menina. Que estava na praça, onde estava o cachorro, que olhava pra ela, que olhava pra ele. Não, não ele o cachorro. Ele o menino. Era o menino mais belo da cidade. Moreno alto, bonito e sensual... Ooops, esqueci que plágio não pode. Então; era um belo rapaz, de estatura acima da média, de peles escuras e um olhar verde que fazia desabrochar flores nos estomagos das meninas. E nela desabrochava um canteiro imenso!
Ficava ali, observando-o. Imaginando-se amá-lo sentados - deitados - no sofá, a luz trespassando o vidro da janela, batendo no chão, refletindo-a nos olhos verdes. Mas as imaginações acabaram quando lembrou que a casa não era sua, que ele não era seu, e que nem os tijolos da entrada haviam sido pintados; como poderia ele aceitar tal proeza?
Ficou então, ali, meio mais perto dele, querendo abraça-lo, mas tão longe que nem mesmo a formiga mais curiosa perceberia o que era o querer dela. Embora fosse o mesmo querer de todas as garotas da Cidadezinha.
Daí, porém, que o grande menino - não vamos esquecer que ele era alto, e já ela era pequenina - esbarrou-se num dos amigos e foi ralar metade da cara no chão, derrapando-a até bater no pé da menina, que de um pulo foi socorrer o bonitão da aldeia - quero dizer... pequena cidade.
Ela e mais quatro rapazes estenderam-lhe as mãos. As dela pequenas, e as deles grandes. Ele, então, tocou a mão na dela. Não por ser ela, mas por nem ter percebido os outros... Mas quem precisa saber disso? Ele, então, tocou-lhe as mãos e a praça, o cachorro, a formiga curiosa, a árvore e todo o resto que nunca tem nada pra fazer - e teve naquele instante - presenciou o casamento. A menina que não falava com muitas pessoas - e, olha! já não eram muitas as que ali permaneciam! - e o menino mais pãozinho - como diriam as vós - do lugar.
Depois disso, só separaram-se aquelas mãos quando cada uma passou a usar um anel. Um igual ao outro.



Pra batata, que falou as palavras.